#ATeoriadeTudo: quando a atuação do protagonista vale mais do q o próprio filme


*Cuidado! Spoilers pra dar e vender!

Que Stephen Hawking é uma mente brilhante todo mundo sabe (ou deveria saber). Que ele têm uma doença degenerativa (esclerose lateral amiotrófica) todo mundo também sabe (ou também deveria saber). Acrescentamos a isso o fato de que Hawking casou-se com uma mulher ainda sem apresentar sintomas muito fortes de sua doença, continuou casado com ela por anos, se separou e casou-se novamente com a enfermeira que cuidou dele a partir de determinado momento enquanto ainda era casado. Agora pára e pensa: apenas sendo contada assim, bem simplesmente, você já imaginaria “Ufa! Quanta coisa!”. Pois é meu querido(a), quanta coisa!

A história de Stephen poderia dar origem a vários filmes graças as suas inúmeras possibilidades. Seria a história de um gênio? Seria a história de um gênio que supera uma doença rara? Ou seria a história de amor de um jovem casal que leva uma surra da vida? Já sei! Todas ela juntas! Será...? Aqui está, na minha humilde opinião, o maior erro de #ATeoriadeTudo. Ao tentar contar boa parte da vida de Stephen Hawking de uma só vez, o filme não se aprofundou em nada e a sensação é de uma grande lacuna em branco. O famoso “falou, falou e não disse nada!”.

Somos apresentados a um Stephen cheio de vida, andando de bicicleta feliz e contente que chega em uma festa e logo se encanta por Jane. Quase um amor a primeira vista. Ok. Stephen está fazendo doutorado em física e, aparentemente, diferentemente dos seus colegas, consegue responder 9 de 10 questão dificílimas proposta por seu professor com muita rapidez e na véspera de apresentá-las. Ok também. Após ir a um baile muito bonito com Jane e protagonizar cenas bem bonitas e românticas, Stephen, que já demonstrava alguns sintomas da sua doença tem um piora e então é diagnosticado com esclerose lateral. Pronto! O filme se perde.

Os anos começam a se passar rapidamente, Stephen começa a ganhar prêmios e prestígio. O filme não nos mostra exatamente como. Já deveríamos ir sabendo da história acadêmica do protagonista? Ah ok! Então o filme quer falar do casamento dele com Jane? Como essa mulher que o amou tanto, ficou do seu lado mesmo nas piores situações, etc. Bom. Na trave! Jane é apresentada quase como uma santa. Dedicada e compreensiva ao extremo, mesmo quando se interessa por outro homem se mantém completamente fiel a Stephen. Toda essa bondade e entrega é tão exagerada que parece falsa. Uma das poucas cenas onde Jane parece ter chegado ao seu extremo, eu disse PARECE, é quando Stephen, brincalhão, está brincando e fazendo barulho com os filhos e Jane tenta estudar. Mas ela não reclama, não faz nada.

Já mais velho, Stephen teve uma pneumonia e agora se comunica com a ajuda de um sintetizador. Opa! Então o filme fala da superação de um herói. Bem. Sim e não. Claro que uma doença rara como essa é extremamente difícil, mas o Stephen do filme não parece ter muita dificuldade para se adaptar com as transformações que estão acontecendo ao seu redor ou os aparelhos que usa para se comunicar, por exemplo. Aí você me diz: “Mas o cara é um gênio!”. Ok. Verdade. Mas gênios também são seres humanos. O único momento de fraqueza de Stephen é quando é lhe dado o diagnóstico. Depois, tudo muito fácil, tudo muito bem.

Voltemos então para o casal. Jane e Stephen, após anos casados e a primeira aparentando estar bem cansada, resolvem ter ajuda de uma enfermeira. Stephen e Elaine logo se dão bem. Jane e Stephen também logo percebem que deixaram de ser um casal, mas não necessariamente deixaram de ser amigos. O diálogo entre os dois é de uma extrema falta de profundeza que beira o constrangedor. Considerando a história dos dois, muito mais era esperado. E então o casamento acaba, Jane finalmente se entrega para o homem que estava interessada e Stephen segue sendo um gênio mundo afora com Elaine a seu lado. Toda a história me parece um prato que poderia ser delicioso mas que serviram gelado ou exageraram no sal (No caso, na falta de).

Mas como nem (quase) tudo é feito só de coisas ruins... Graças a deus, jah ou no que você acreditar! #ATeoriadeTudo tem um grande trunfo! Um belíssimo trunfo aliás! Eddie Redmayne apresenta uma performance impressionante. É muito claro que ele estudou profundamente Stephen e sua doença. A evolução da paralisia, a dicção e o mais bonito de tudo: Quando Stephen só consegue se comunicar levantando as sobrancelhas, Redmayne está simplesmente maravilhoso. Conseguimos captar toda a emoção do personagem apenas pelos seus olhos. Um trabalho inesquecível. Felicity Jones está bem como Jane, porém, me parece que a qualidade da sua performance é elevada justamente por estar contracenando com um cara que, simplesmente, está arrasando. Ela está correta. Apenas.

Outra coisa muito interessante de #ATeoriadeTudo e que merece ser lembrada são as músicas de Jóhann Jóhannsson. Muito bonitas, se destacam nesse grande emaranhado de coisas que acontecem durante duas horas sem nenhuma direção exata ou foco preciso. Merece ser visto? Sim, merece ser visto! Vai ser lembrado? Vai! Como o filme “do ator que arrasou fazendo o Stephen Hawking!”. Não desmerecendo Redmayne, mas Hawking merecia um filme a altura da sua grande história.

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