A volta de #GilmoreGirls e outras séries queridas, nostalgia e como é importante saber o momento de parar.
O dia mais aguardado de 2016 para os fãs de #GilmoreGirls finalmente chegou. A nova temporada da série trouxe quase todos os elementos que a caracterizaram nas temporadas clássicas e não decepcionou. “Finalizada” há nove anos atrás, #GilmoreGirls faz parte dessa moda de ressuscitar séries que ainda possuem algum apelo pra saciar a nostalgia dos fãs. É ótimo rever seus personagens queridos, novas situações, velhos costumes e etc. Mas no fim do quarto episódio tive a sensação de “ok, já deu!” e de que as mulheres Gilmore merecem continuar apenas como uma boa lembrança que pode ser revisitada de vez em quando com os episódios antigos.
** daqui em diante spoiler liberado! **
A última temporada oficial de #GilmoreGirls terminou de um jeito estranho. A criadora e seu marido produtor (Amy Sherman-Palladino e Daniel Palladino) não chegaram a um acordo com o canal que exibia a série na época e abandonaram o barco. Para muitos é a pior temporada da série com o fator agravante de que a criadora sempre declarou que sabia desde sempre quais seriam as últimas quatro palavras da série e “não pôde” escrevê-las. Particularmente acho balela. Acredito que se ela tivesse realmente esse apego todo a “sua filha” daria um jeito de finalizar a série como tinha planejado, mas, como não sabemos EXATAMENTE o que aconteceu, deixa quieto, tudo são especulações. Polêmicas a parte, a 7ª temporada não é ruim. É clara a diferença no texto em comparação com as outras temporadas mas não merece ser tão apedrejada. A questão é que parece que os Palladinos quiseram esquecer quase que completamente os “últimos” 22 episódios e talvez até os anos em que Lorelai e Rory ficaram fora do ar.
A história das personagens principais retomaram praticamente de onde pararam na 6ª temporada. Lorelai ainda insatisfeita com a questão de ter apenas “se juntado” com o Luke e o fato dele ceder demais e ela querer que ele preserve a sua individualidade (talvez essa questão tenha sido levantada mais na 5ª temporada) e Rory em busca de uma carreira sólida no jornalismo. Tudo bem que essas coisas podem acontecer, mas porque Lorelai e Luke não se casaram nesses 9 anos depois que ela casou com outro praticamente porque Luke não se posicionava em relação a isso? E porque não tiveram uma DR sobre se queriam realmente ou não ter filhos antes? E Rory? Na teoria ela já trabalha como jornalista freelancer há 9 anos, como conseguiu se manter nesse tempo para apenas agora perceber que estava em um momento ruim da carreira? E todo o frescor de ter um artigo finalmente publicado como uma recente recém formada no primeiro episódio? Essas questões me parecem estranhas e seus tempos não se encaixam muito bem mas simplesmente absorvemos porque né? Olha lá! É a Lorelai e Rory falando super rápido e tomando café de novo! Tudo bem!
Se por um lado as histórias de Lorelai e Rory parecem ter sido levemente congeladas no tempo, a história de Emily e de alguns coadjuvantes não. No primeiro episódio descobrimos que Emily está viúva há apenas quatro meses e começando a se reencontrar na vida sem seu parceiro de muitos anos. Esse é o plot mais forte dessa temporada e que resulta nas melhores cenas dos quatro episódios. Aqui, além de interessante, temos uma história mais convincente. É uma delícia assistir a transformação de Emily que, até então, era escrava das conveniências, cheias de regras e preconceitos se soltando disso tudo e se transformando numa mulher mais leve, coração e cabeça abertos. A ausência de Richard claro que é sentida (Edward Herrmann faleceu em 2014) e, em uma belíssima homenagem, essa ausência é transformada em um empurrão para a evolução de Emily e em certa medida, para a de Lorelai e Rory também. Kelly Bishop está esplêndida, com total domínio da personagem e do texto e rouba a cena sempre que aparece na tela. Outra personagem que evoluiu bastante e de uma maneira que parece bem coerente é Paris. Oh Paris! Aqui os Palladinos também acertaram em cheio. Claro que Paris só poderia ter conquistado tudo que queria, ter se tornado uma super profissional mas ao mesmo tempo continuado paranóica, irritante e ao mesmo tempo doce e muito engraçada correto? Correto! Liza Weil está ótima nesse retorno. Além de trazer trejeitos da Paris jovem, amadureceu a personagem com novos gestuais além de ter excelente timing cômico. O segundo episódio em que ela surta no banheiro é praticamente dela.
A personagem que mais nos deixa frustrados continua sendo Lane. Só eu esperava muito mais pra ela? Ela fazendo uma tour com a banda e criando os dois filhos dentro de um ônibus enquanto rodavam por aí? Nem precisava virar uma banda famosa nem nada, mas alguma coisa mais rock’n’roll e menos Stars Hollow. É, não rolou. Tudo bem também. #GilmoreGirls também sempre foi um pouco sobre o que era planejado e acabou sendo desplanejado pra acabar sendo descoberto como uma boa solução. Outra coisa que sempre pareceu planejado era a estadia de Sookie em Stars Hollow pra sempre, mas aí vem a vida e a carrega para Hollywood pra fazer blockbusters e virar uma estrela, ops, pra uma espécie de comunidade alternativa. A cena dela com a Lorelai no quarto episódio é pra qualquer fã ficar com os olhos MUITO marejados.
Ainda vou falar de cenas específicas como essa na cozinha do Dragonfly Inn, mas antes é preciso comentar os roteiros. Mesmo com algumas ressalvas, os roteiros do casal Palladino são muito bons. Primeiro porque eles conseguiram montar o arco dramático das personagens muito bem nesses quatro episódios. O humor leve com os momentos de drama necessários, sem exageros, com as nossas queridas referências bombando sempre que possível e de uma maneira muito orgânica continuam existindo. As personagens continuam muito humanas e cheias de pontos positivos e negativos e esse é o segredo pelo qual nos apaixonamos por aquelas “pessoas” que nos parecem amigos bem próximos. A essência de #GilmoreGirls está lá. Como nada está livre de ter escorregões, aqui não é diferente. Como explicar, por exemplo, o namorado de Rory que ela vive esquecendo? Se era pra ser engraçado, infelizmente não rolou. E se tinha alguma intenção em dizer algo sobre Rory não sei se exatamente compreendi a mensagem. Rory não é santa mas virou uma escrota completa? E o tempo gasto em tela com o musical de Stars Hollow? Sim, sei de toda a questão do cara que ganhou o Tony, das letras escritas pelos Palladinos mas, de novo, desnecessário. E a brigada da vida e morte tratando Rory como se ela acabasse de ter saído da faculdade? Quiseram realmente esquecer a 7ª temporada e os anos todos que se passaram? De novo, desnecessário.
Voltando a cena de Lorelai e Sookie na cozinha do Dragonfly Inn porque né? Vamos focar nas coisas legais. Essa é uma das cenas que faz um carinho no coração dos fãs saudosistas, assim como Rory e Paris de volta a Chilton ou Lorelai arrematando a cesta de lanches no festival da cidade. E o que dizer dos diálogos marcantes das temporadas clássicas em off no início do primeiro episódio? E o reencontro de Lorelai e Rory no coreto de Stars Hollow? O primeiro episódio foi, definitivamente escrito para fazer o fã matar a saudade. Mas não ficou só nisso. Novas cenas que fazem os personagens irem pra frente foram bem marcantes. Toda a sequência da briga de Lorelai e Emily logo após o funeral é muito bem realizada, com ótimos diálogos e com Lauren Graham e Kelly Bishop arrasando. E o que dizer das cenas com Graham e Alexis Bledel? Começamos com a cena do primeiro episódio onde Lorelai encontra Rory sapateando na cozinha, passando pela cena que Rory conta para Lorelai que quer escrever um livro com a história das duas, a briga no cemitério e finalmente, a cena final onde a tal das últimas quatro palavras são ditas. A química das atrizes continua irretocável e o texto, muito bom. Uma coisa que essa temporada trouxe de novo e que achei interessantíssimo foram os momentos de silêncio entre mãe e filha, mesmo que depois elas voltem (ainda bem!) a falar loucamente. De novo, a cena quando Rory está sapateado na cozinha. Quando ela vai pegar o café e rola aquele silêncio entre as duas, respirações mais profundas, Lorelai solta um pequeno "como é bom ter você em casa!" e no tempo delas, se sentam, tomam café e começam a conversar. Essa pausa, esse silêncio, demonstra a cumplicidade das personagens, soa natural e orgânico e deixou a cena mais linda.
Alexis Bledel evoluiu incrivelmente desde as temporadas clássicas e faz ótimas cenas (além da sua postura ter melhorado 100%! miga, passa o contato desse fisioterapeuta aí!). Lauren Graham também tem ótimos momentos revivendo Lorelai como na já dita cena pós funeral e na cena do último episódio que ela liga para a mãe ou na discussão com Luke na lanchonete. Aqui, é importante destacar a melancolia que Graham trás nos olhos durante quase todos os episódios, mostrando como algumas coisas incomodam Lorelai. Kelly Bishop e Liza Weil, como já disse, também se destacam. Assim como Sean Gunn como o ótimo Kirk, Yanic Truesdale (o Michel) que ganhou mais espaço e podemos ver mais do seu talento e Milo Ventimiglia que trouxe o Jess de volta mais amadurecido e com menos maneirismos e poses de “sou rebelde”. Assim como nas temporadas clássicas o elenco coadjuvante precisa ser lembrando pois são uma saborosa cereja nesse bolo. Michael Winters (o Taylor) e Sally Struthers (a Babette) são ótimos exemplos. Senti falta da Patty e do Kirk nas reuniões do conselho da cidade, mas tudo bem.
Foi tudo muito bonito, muito bem produzido, risadas e lágrimas rolaram, as cenas finais são ótimas e as quatro palavras finais fazem todo o sentido (pelo menos pra mim). Mas quando os créditos finais do último episódio começaram a aparecer tive uma sensação estranha. A mesma sensação que tive com o final do primeiro filme de #SexAndTheCity (o segundo prefiro acreditar que não existiu) ou no final do filme de #VeronicaMars, ou ainda quando produziram um especial com o Rui e a Vani de #OsNormais no futuro (o primeiro filme é até bom mas o segundo também prefiro acreditar que foi um alucinação ruim) e ainda tem aquele momento de decepção com algum episódio novo de alguma série ETERNA como #GreysAnatomy que sempre rola. E tem mais séries que foram legais voltando por aí, só pra citar duas: a nova temporada de #PrisonBreak e a nova #24Horas sem Jack Bauer mas no mesmo universo da série original pra poder viabilizar, se possível, a participação do Kiefer Sutherland. As pessoas precisam saber o momento certo de parar. E não digo isso porque não tenha gostado dessa temporada de #GilmoreGirls (acho que fui bem claro que achei ótima né?), apenas acho que as coisas vão se transformando e virando outras coisas. O que era uma boa lembrança vira um ótimo revival mas pode virar uma série que “meu deus! agora Lorelai resolveu ter um filho com 60 anos!” (isso é apenas uma suposição usada como exemplo, ok?). Acredito que o que faz uma série se tornar marcante, além de claro, um bom roteiro, boas atuações, personagens envolvente, etc., é o momento que ela marcou nossa vida e como aquele momento se tornou mais legal por ter aquela série especial pra acompanhar. Nada dura pra sempre amiguinhos, e esse clichê realmente precisa ser usado porque sério, não dá pra ver Lauren Graham tentando ser engraçada fazendo exercícios malucos pra entrar no vestido de casamento e dizer que aquilo foi realmente bom. É no mínimo engraçadinho e a gente respeita porque “olha! Isso é tão Lorelai!” exceto pelo fato de que não é mais. Carrie Bradshaw provavelmente cansou de sair toda noite pra beber Cosmopolitan e ficar falando de sexo com as amigas. Jack Bauer, se já não morreu, não vai conseguir mais viajar entre continentes em menos de 24 horas e ainda ser torturado no meio disso tudo e Meredith, bom, Meredith merece um descanso, né!? Todo tipo de tragédia já aconteceu com ela. Não é ruim ter essas memórias boas na cabeça ao invés de eternos episódios que podem acabar florescendo uma antipatia com outrora personagens tão queridas? Novas séries legais vão surgir e essas continuaram como uma boa lembrança e uma boa base para analisarmos o que está por vim. Eu voto nisso.