#Elis é tecnicamente perfeito mas escorrega na abordagem.
Se algum desavisado (ou ignorante mesmo) ainda falar perto de você que filme brasileiro não presta pois não tem um bom som, a imagem é ruim ou blá, blá, blá, mande essa criatura assistir #Elis correndo! O filme faz um apanhado da trajetória da cantora Elis Regina desde quando se mudou para o Rio de Janeiro em busca de novas oportunidades até a sua precoce morte. Se tecnicamente o filme é perfeito e enche os olhos, decepciona por sua abordagem no estilo "resumão", onde prioriza contar pontos marcantes da vida da Elis sem tentar entender ou se aprofundar em quem era a artista e porque foi (e ainda é) considerada uma das maiores cantoras do nosso país.
Comentei recentemente aqui no blog sobre o documentário #OJMadeInAmerica (aqui) e como uma das suas melhores qualidades era a compreensão de que a história que estava sendo contada era complexa e, para melhor entendimento, um tempo maior de duração era necessário. Em #Elis esse talvez seja o grande erro. Elis Regina foi uma mulher complexa com uma vida cheia de fases e que chega a ser injusto resumir toda a sua vida em 1 hora e 55 minutos. Porque não escolher uma fase da sua vida e se aprofundar nela? Trazer Elis para próximo do espectador e tentar entendê-la? Em #Elis tudo é contado muito rapidamente e ficamos com gosto de quero mais. Sua trajetória artística é priorizada mas a julgar apenas pelo que é apresentado em tela, não conseguimos entender o porque do fenômeno Elis Regina. Na vida pessoal o filme preferiu priorizar seus romances com cenas de sexo com tempo em tela desnecessário ao invés de gradativamente entender o que ocorria em seus relacionamentos.
Pra piorar, frases de efeito foi um recurso usado para marcar as "épocas" de Elis. Textão na entrevista na França onde fala sobre a situação política do Brasil: Ok!. Textão na cochia quando diz que irá cantar no mesmo palco que Diana Ross cantou: Ok!. Textão quando seu casamento com Ronaldo Bôscoli está indo para as cucuias: Ok, ok!. Tudo é didático e precisa ser muito bem marcado. Essa opção de abordagem pode não tem agradado alguns, mas foi escolhida pra agradar a maioria e obteve êxito. Além do sucesso de bilheteria, o filme é um sucesso no boca-a-boca. E mesmo com toda essa correria e falta de profundidade, podemos dizer que o filme não suja a imagem de Elis ou algo do tipo. É uma boa homenagem. Uma homenagem ok.
Tecnicamente o filme dá show e enche os olhos. A direção de arte, figurino e maquiagem são excelentes e atravessam as várias épocas que #Elis conta com muito mais sutileza do que o próprio roteiro. Os cenários, as roupas, as perucas, tudo, sem exceção é muito bom e contribuem bastante para o filme. A fotografia também é muito competente e bonita. A idéia de que todas as músicas seriam dubladas a princípio causa estranheza, mas durante o filme vemos que foi a decisão mais acertada. Primeiro porque a voz da Elis Regina é muito marcante, e suprimir isso do filme seria uma pena. Segundo pelo empenho da Andreia Horta em dublá-las da forma mais real possível.
Então, Andreia Horta. O que seria de #Elis sem Andreia Horta? Acho que 85% dos motivos pelo filme não ser lembrado pelos seus deslizes se deve a atriz. Ela está simplesmente perfeita. A semelhança (ajudada pela caracterização) impressiona. Em todos seus trabalhos Andreia demonstra força e visceralidade, para interpretar a "pimentinha" não poderia ser diferente. Faço apenas uma ressalva no desempenho da atriz: os sorrisos forçados em diversos momentos. O primeiro foi bom, do terceiro em diante já sentimos que era pra forçar uma barra. O elenco todo de #Elis, aliás, merece todos os parabéns. Gustavo Machado, Caco Ciocler e Lúcio Mauro Filho se destacam. O camaleônico Júlio Andrade mostra seu enorme talento mais uma vez e arrebenta.
Sim, #Elis tem falhas mas é um filme que merece ser visto e lembrar um grande talento como Elis Regina nunca é demais. Assistam.