#EmDefesaDeJacob é clichezão dos bons!



A primeira vez que ouvi falar sobre #EmDefesaDeJacob foi em um artigo que dizia que o projeto surgiu, dentre outras coisas, da vontade do Chris Evans de se descolar da imagem do "Capitão América". Além de ser o protagonista oficial da minissérie da Apple TV+, Evans é também um dos produtores executivos. Se o que dizia nesse artigo era real ou não, não sei. O que posso dizer é que é claro que o ator quer mostrar um outro lado de suas habilidades como ator e... até certo ponto consegue, mas com uma coadjuvante de peso como Michelle Dockery a tarefa fica um tanto quanto mais complicada. 

** A PARTIR DAQUI CONTÉM SPOILERS! **

A história de uma família americana, aparentemente perfeita, branca, rica (de comercial de margarina mesmo) e que de repente vêem tudo virar de cabeça pra baixo quando o filho é acusado de assassinar um colega do colégio começa morna mas graças aos conflitos dramáticos dos personagens que evoluem muito bem, consegue te capturar e te fazem esperar pelo desfecho da história. Esse, por sua vez não decepciona mas pode deixar muitos irritados. O roteiro tem como base o livro de mesmo nome (de William Landay) e tem a assinatura de Mark Bomback (entre outras coisas, também roteirista de "A Lista - Você está livre hoje?"). Bomback constrói os personagens de forma lenta, e esse talvez seja seu maior acerto e maior deslize. Nos dois primeiros episódios é extremamente irritante a perfeição da família, mas ao mesmo tempo, nos apegamos a eles justamente por vê-los completamente transtornados e perdidos quando estão no fundo do poço. 

O roteiro também usa e abusa de ferramentas clichês de suspense (que a gente adora) como carro perseguindo a mocinha, segredos de famílias revelados, personagens caricatos que te induzem a pensar quem é o verdadeiro culpado do crime, etc. É aí que entra Morten Tyldum, o diretor da minissérie que tem no currículo o excelente "O Jogo da Imitação". Ele pega toda essa mistura e coloca numa embalagem bem conduzida, classuda e que envolve o espectador. Creio também que é por parte do seu olhar que a personagem Laurie (a mãe da família) e claro, pela maravilhosa Michelle Dockery que a mesma cresça tanto em tela. Mesmo que no final, o roteiro já coloque ela como personagem central. E aí volto ao assunto que comecei no primeiro parágrafo.

Mesmo estando bem no papel do protagonista Andy, o macho alfa provedor de família que toma cerveja quando chega do trabalho onde é considerado o fodão, Chris Evans não apresenta nada de surpreendente ou minimamente novo. Apenas faz o seu trabalho correto. E mesmo com algumas olhadas com olhos semicerrados que querem te dizer "sou galã", como já disse, é clara a sua vontade de ser descolado dos papéis que fez anteriormente. Uma prova disso é que não existe nenhuma cena onde o mesmo está sem camisa, E oportunidades não faltam. Acho interessante essa vontade dele, aguardemos os trabalhos futuros. 

Junta-se a questão de que Evans é ainda um pouco limitado o fato de sua maior parceira de cena ser a Michelle Dockery (Oi Lady Mary de #DowntonAbbey!) que é extremamente talentosa e cheias de possibilidades, aí temos a questão que citei acima de ser uma tarefa um pouco difícil não ter a cena roubada por ela. O drama familiar é interessante tanto para Evans quanto para Dockery. Ele, pai provedor que quer provar a inocência do filho de qualquer jeito (e faz coisas bem questionáveis aliás) e acaba dando de cara com uma questão própria, mal resolvida do passado, com seu próprio pai. E ela, mãe que começa a questionar a índole do filho e, de quebra, confunde isso com o amor que sente pelo mesmo e a criação que lhe deu, descobre mentiras do marido, além de ver seu castelo de princesa cair por terra. Nesse "duelo" Laurie brilha e Dockery chama mais atenção que Evans. 

Nomes do elenco que também merecem ser citados: Jaeden Martell (O Jacob do título, o filho da família) que entrega um adolescente bem ambíguo. Pablo Schreiber, o advogado de acusação que ao mesmo tempo que se vê nessa posição vemos que sente um certo mix de inveja/empatia pelo antigo colega de trabalho (Evans). Cherry Jones, a advogada de defesa, perfeita em todas as cenas e em cada tom que aplica as palavras. Betty Gabriel, a colega de trabalho do pai da família que mesmo não sendo amiga dele, se compadece e tenta ajudar. E J.K. Simmons como o pai criminoso que volta do passado pra perturbar um pouco mais a cabeça de Andy. É bom citar que todos esses, com excessão de Martell tem tempo em tela bem limitados mas dão o nome.

#EmDefesaDeJacob está disponível na Apple TV+ e é entretenimento de primeira!