#IMayDestroyYou não deixa quem assiste ileso. Não me deixou. “E se eu morresse hoje?”


Antes de escrever sobre qualquer coisa que estou escrevendo ultimamente, além de assistir a tal coisa (parece obvio mas não é pra muitas pessoas), dou uma lida geral sobre a coisa e acabo, claro, caindo em textos que também falam sobre a bendita coisa. #IMayDestroyYou fala sobre muitas coisas. Enfia o dedo sem dó em várias feridas e é um soco. Se você der um google rapidamente vai ver que já falaram em "série do ano" e "genialidade". Concordo com tudo. Acho um retrato fiel de um grupo de pessoas que estão perdidas, achando que estão se encontrando, não sabem se amar e nem amar ao próximo mas vivem com a palavra "amor" na boca. Já falaram tudo o que tinham que falar e o textão dessa vez brotou diferente. Saiu como #IMayDestroyYou bateu. 

Obrigado e parabéns Michaela Coel. Não me invente de fazer uma 2ª temporada se não for minimamente brilhante como essa. 

ALERTA DE GATILHO 

E se eu morresse hoje?

Se eu morresse hoje eu não morreria feliz, acho que morreria tranquilo. Não! Morreria feliz sim. A gente confunde felicidade com euforia, é isso. Felicidade talvez seja olhar pra traz e sentir paz. Paz.

Se eu morresse hoje ia morrer incomodado porque todo mundo adora dizer que “a única certeza da vida é a morte” mas o assunto “morte” nunca é um assunto tragável. Fácil. 

Se eu morresse hoje iria morrer ok em relação a minha vida profissional. Consegui realizar coisas legais, coisas que quis, que sonhei, que me orgulho. Queria fazer mais, mas tudo bem. Errei e aprendi muito. Mudei.

Se eu morresse hoje teria um sorriso no rosto. Tive uma família incrível mesmo tendo raiva de todos em algum momento. Fiz amizades verdadeiras mas também perdi contato com pessoas que me identifiquei muito. A vida aconteceu. Disse eu te amo pra todo mundo que senti que deveria ter dito. De verdade. 

Se eu morresse hoje morreria um pouco frustrado. Queria ter feito mais sexo, beijado mais na boca e teria menos pudores com meu corpo. Queria ter ouvido “eu te amo” de algum desconhecido que virou conhecido depois de um tempo e feito loucuras de amor. Amor.

Se eu morresse hoje com certeza eu morreria preocupado. E meus pais? E minhas irmãs? E minhas tias, primas, sobrinho, amigxs amados? Imagino todos chorando ou tristes mas sempre me imagino em paz. Isso é bom certo? Afinal, fui amado. Fui amado.

Se eu morresse hoje, deixaria muito problema pra outras pessoas resolverem? Não gostaria. Morreria irritado.

Se eu morresse hoje eu morreria com raiva. Raiva da direção que a humanidade tomou. Quando perdemos o controle? Quando tudo ficou terrivelmente cruel e sem cuidado? Porque ficamos tão burros e, ao contrário de todas as previsões, regredimos?

Se eu morresse hoje teria gastado menos tempo no celular e mais tempo na terapia. Ia sentir falta de assistir bons filmes, novelas e séries. Música! Se eu morresse hoje eu ia sentir muita falta de cantar minhas músicas no chuveiro.

Se eu morresse hoje finalmente tiraria a prova dos nove: morreu acabou? Ou poderia rever minha avó, amigos queridos que já morreram e dizer “eu sou seu fã” pro Michael, pra Amy, pra Elis e pro Tim?

Se eu morresse hoje iria morrer arrependido de não ter acordado mais vezes cedo e tomado café com leite fresco e sentir que teria o dia inteiro pela frente. Morreria com vontade de ter bebido menos e ter ficado mais até o final de festas incríveis.

Se eu morresse hoje eu sentiria falta do efeito do álcool e do MD. Morreria também sem nunca ter provado eles. Morreria querendo ter mais consciência das minhas limitações e problemas.

Se eu morresse hoje eu queria ter tido mais fé no desconhecido. Fé. Queria ter tido mais fé. O que é fé? Queria ter cuidado melhor da minha saúde mental e espiritual. Espiritualidade. Sou de capricórnio com ascendente em aquário. Isso te diz alguma coisa? Isso QUER dizer alguma coisa? Ou é só assunto pra mesa de bar?

Se eu morresse hoje não estaria arrependido de ter sido grosso ou mal humorado algumas vezes. Mas teria "não dito" várias coisas, parado pra ouvir muitas outras e ter tido a consciência de “pera aí, eu preciso viver ou ouvir isso”. E ter parado. Ouvido ou vivido sem me atropelar. Calma.

Morreria gargalhando das besteiras que falei com minha mãe, meus amigos e com crianças. Teria boas memórias pra guardar e algumas que queria poder apertar o botão direito e excluir para toda a eternidade.

Eternidade. Se eu morresse hoje eu morreria querendo viver. Se eu morresse hoje eu morreria querendo ser lembrado. Não sei como, só lembrado. Se eu morresse hoje eu queria que dessem uma festa e não declarações bregas nas redes sociais. Doem meus órgãos. Tudo que der pra reutilizar, doem.

Se eu morresse hoje ia querer morrer sem dor, fechando os olhos, só ouvindo minha respiração. Paz. Foi bom, mas acabou. Ok. End.