June vira justiceira quase sem limites na 3ª temporada de #TheHandMaidsTale
SPOILERS!
Se o final da 2ª temporada de #TheHandMaidsTale nos deixou com cara de “tá de brincadeira?” a 3ª ficou com um peso gigantesco nas costas pra nos dar uma bela de uma justificativa para aquela decisão da protagonista. Demorou um pouco mas deu. E uma ótima!
Pra começar, no geral, senti a clara intenção dos autores de dar um tom mais "leve" pra história (talvez por esse motivo), ligaram o botão “libera geral” e começaram a escrever. Se antes Gilead era um lugar muito rígido, extremamente cheio de regras, onde as Aias tinham bastante dificuldade de ir e vir e eram punidas fisicamente de formas terríveis, nessa temporada parece que baixaram a guarda. June, por exemplo, transitou livremente por toda a temporada. Ok, seu "dono" não é mais o escroto do Fred e Joseph é, aparentemente, mais tranquilo e parece estar desacreditado daquele sistema que ele ajudou a criar mas que, mais tarde, descobrimos que está preso nele. Mas mesmo assim foi levemente estranho essa mudança drástica onde parecia que ela tinha passe livre pra fazer o que quisesse e circular por onde bem entendesse. Se por um lado foi estranho, por outro, foi ótimo, ajudou e muito na evolução da história.
A temporada foi dividida em duas partes com uma transformação da personagem principal extremamente bem escrita pelos autores e representada pela Elisabeth Moss. June vai assumindo, ao longo da temporada, a liderança da revolução que tanto esperávamos. Do episódio 1 a0 9, June, já com Nichole sã e salva no Canadá, concentra suas forças em tentar resgatar Hannah e fugir com sua primeira filha daquele inferno. É bom observar que aqui, grupos de crianças, principalmente meninas, são inseridas aqui e ali deixando June cada vez mais encafifada. A começar pelo episódio 6, na casa do comandante Winslow, onde as crianças parecem objetos de decoração. Passando pelo episódio 7, quando June tenta visitar Hannah no colégio, sem sucesso, mas ouve do outro lado do muro uma enorme quantidade de "pequenas prisioneiras". E, principalmente, no episódio 9, quando June é obrigada a ficar no hospital acompanhando Ofmatthew como forma de castigo e em determinado momento ela tem contato com uma adolescente que diz que eles (médicos) disseram que ela já pode ter filhos quando se casar, no que June a questiona "é o que você quer?" e claramente desconfortável, em dúvida ou até mentindo a adolescente responde "Mas é claro. Muito". Essas inserções vão ascendendo na nossa protagonista algo maior. Claro, ela pode continuar tentando salvar a sua Hannah (e nesse episódio 9 ela tem o insight da temporada) mas existem muitas outras "Hannahs" naquele lugar e qual o melhor modo de se vingar daquele sistema tão cruel (pra dizer o mínimo) se não os tirando os que eles mais querem, ou seja, as crianças?
Antes de pularmos para segunda parte dessa temporada, a storyline da Serena merece ser destacada. Uma mulher cada vez mais confusa, sofrida mas também uma belíssima de uma escrota. Personagem forte e que até agora foi muito bem conduzida pelos roteiristas e brilhantemente interpretada pela Yvonne Strahovski. Sua relação de cumplicidade e, ao mesmo tempo, seus embates com June foram ótimos momentos dessa temporada. A trama de Fred, apesar de ter certa importância quando a fuga/resgate de Nichole se transforma em algo maior e político, e nos mostrar o quanto a República de Gilead é maior do que (talvez) imaginássemos, vai perdendo espaço. O interesse sexual do comandante Winslow em Fred, talvez, rendesse bons desdobramentos, mas por um motivo mais interessante para a história como um todo, esse plot foi abortado. É simplesmente maravilhoso vê-lo se dando mal depois que Serena o entrega. E ela sendo pega no último episódio por um motivo ÓBVIO também deu um certo prazerzinho. Vimos um pouco da retomada de vida da Emily mas bem brevemente, aliás, todo o núcleo Canadá foi abordado apenas na primeira metade da temporada e esperamos mais para a 4ª temporada. Outro episódio que merece destaque é o 8 e os flashbacks com a vida pregressa da Lydia. Me lembrou muito o que vivemos no nosso país com nosso atual governo. Se antes as pessoas pensavam absurdos mas guardavam pra sí, hoje com um cara no poder que não apenas repete, reforça e incentiva esses absurdos, todos e todas as Lydias se sentem "acolhidos" e validados a proliferarem e até colocarem em prática tais absurdos. Ofmatthew também foi uma personagem interessante, uma Aia "conformada" que surta após as pressões da já principiante líder do movimento, June.
Desde o início da temporada, June, já se mostrava, digamos, afrontosa. Isso só foi aumentando com o decorrer dos episódios. Após sua decisão de tirar a maior quantidade de crianças de Gilead ela vira uma verdadeira justiceira. Aqui o botão do "libera geral" que havia dito lá no início apresenta traços mais fortes ainda. Ela vai ao prostíbulo (de boas, sem nenhuma dificuldade) em busca de uma aliança para ter como transportar as crianças, Joseph e sua esposa, Eleanor. Tudo bem, tudo certo, até ela dar de cara com Winslow que a agarra a força e June acaba o matando, primeiro a canetadas e depois com uma pancada na cabeça. Esse é um momento decisivo para personagem, uma virada de chavinha. Com o auxílio das super-Marthas toda a cena do crime é limpada e Winslow vira pó.
Mas, como já disse, June está mudada. Eleanor, a esposa de Joseph, nessa temporada, mostrou que tinha alguns momentos de lucidez, mas June logo percebeu que ela poderia ser um problema. Em uma crise, Eleanor tenta se matar mas June chega a tempo, e o que ela faz? NA-DA. E se ela atrapalhasse seus planos?. Parece que June partiu pro tudo ou nada e ai de quem se metesse no caminho dela (ou não). Ela só se toca o quanto está possuída pelo ritmo Ragatanga quando, acidentalmente, aponta uma arma para uma das crianças.
Nessa empreitada, nossa protagonista não estava sozinha, tinha a ajuda da Marthas e das outras Aias e esse é sempre um ponto muito bom, importante e talvez a espinha dorsal da série: a união das mulheres. Isso é muito bem ilustrado na simbólica cena quando June é encontrada ferida e carregada pelas outras Aias no episódio final. De novo o morre não morre dela, mas a gente perdoa. O clímax com a chegada das crianças no Canadá nos faz esquecer. Eu só acreditei que tinha acontecido de verdade depois que elas responderam a Moira. Achei uma ótima temporada, com algumas enrolaçõezinhas mas que fez a série recuperar o brilho. A grande sensação que ficou, pra mim, é que a trama está se encaminhando para a reta final. Tomara que com revolução e o fim de Gilead. A quarta temporada só em 2021 e já tem teaser: