Curva dramática e trio de protagonistas conseguem salvar #Desalma
Nos últimos anos, filmes e séries do gênero suspense tem ganhado mais espaço no mercado brasileiro. Na própria Globo, "recentemente", lembro de boas incursões como em #ACura (que espero a 2ª temporada até hoje) e #Supermax. Todas tem um ponto em comum: a vontade de acertar e #Desalma sai um pouco mais a frente, já que com sua 2ª temporada confirmada, pode corrigir os erros que apresentou nessa 1ª. Erros esses que são claramente notados mas que, no todo, não a torna um produto ruim. Isso, graças, principalmente a escolha das atrizes que protagonizam a série e abraçam o tom da interpretação proposta de forma muito natural e a condução da linha principal da história que vai aumentando sua tensão a cada episódio culminando nos dois episódios finais onde ficamos querendo mais.
PROVÁVEIS SPOILER A PARTIR DAQUI
Uma das coisas que mais me incomodou foi a dureza dos diálogos. Falar quase sussurando pra ajudar com o clima de suspense, ok. Válido. Mas declamar o texto, letra por letra, sílaba por sílaba e ainda soar natural é tarefa difícil pra qualquer ator e apenas Cássia Kis (Haia), Cláudia Abreu (Ignes), Maria Ribeiro (Giovana), Bruce Gomlevsky (Ivan), Isabel Teixeira (Anele) e Gabriel Muglia (Pavlo, o delegado de 2018) conseguem tal feito. O problema fica maior ainda quando comparamos com o elenco jovem onde apenas Camila Botelho (Melissa), Anna Melo (Halyna) e Nicolas Fernando (Aleksey) se saem bem. Resultado? Uma clara falta de coesão na direção do elenco. Se por um lado temos essa questão, por outro, Cássia Kis, Cláudia Abreu e Maria Ribeiro agarraram com vontade o título de protagonistas e fazem jus ao posto. São a alma da série, trocadilho tosco, eu sei. A cena do encontro entre Haia e Ignes é de uma força impressionante. Maria Ribeiro tem menos cenas tão interessantes quantos suas companheiras mas em todas que aparece se sai muito bem e a história que pode vir para sua personagem na próxima temporada parece promissora.
Além dos diálogos coloquiais, o texto parece sofrer de uma certa lentidão, mas com o decorrer dos episódios entendemos que a proposta é justamente essa. Uma evolução. O crescimento da angústia culminando na estranheza/pavor. Isso deixa uma missão difícil e desafiadora para a 2ª temporada que, considerando o final da primeira, deve ser mais sombria ainda. O vai e vem no tempo (entre 1988 e 2018) também poderia ter sido menor, fazendo com que nos apegássemos (mais) ao que realmente interessava: as três protagonistas. O insistente uso dos letreiros "1988"e "2018" mesmo quando a história já estava estabelecida para o espectador foi desnecessário e ficou muito didático. Uma besteira, mas que sem, faria diferença para o lado bom. O uso óbvio e as vezes repetitivo de uma música heavy metal (no caso a versão de Tained Love pelo Sepultura, feita exclusivamente para a série) é o clássico "ótima idéia mas na prática ficou meio estranho". Não consegui deixar de imaginar a cena do Aleksey andando perdido pela estrada com a versão mais conhecida da música (pelo Soft Cell). Acho que teria um impacto tanto dramático, quanto melancólico, além de remeter a época dessa versão, mesma época em que os acontecimentos que iniciaram toda a "maldição" ocorreram, os anos 80. Mesmo assim não considero isso um problema, talvez só uma questão de gosto pessoal mesmo. Outra coisa que me pareceu estranha foi uma festa rave em Brígida, uma cidade sempre sinalizada como bucólica, onde celulares funcionam, mas quando uma menina desaparece, as pessoas ainda optam por colar cartazes pela cidade. Não colou. Detalhe bobo mas que poderia ser evitado: em quase todas as cenas que os personagens estavam falando em celulares os aparelhos estavam com a tela desligada. 😬
Além das protagonistas e da evolução dramática, fotografia, arte, figurino, locações e caracterização (destaque óbvio para a da personagem da Cássia) são puro primor. O que é a festa de Ivana Kupala em 88? Belíssimas cenas e trilha. Tudo muito bem trabalhado e que faz nossos olhos brilharem. Fiquei muito curioso para o que nos aguarda na 2ª temporada e com certeza acompanharei.
Além da série, indico o Conversa Com Bial com a autora Ana Paula Maia e a atriz Cássia Kiss.