#REVENDO: Sua carta chegou! Finalmente toda a saga Harry Potter está disponível no streaming

Talvez a série de filmes mais esperada na Netflix brasileira (virou até piada nas redes sociais da empresa) e, com certeza, uma das maiores franquias cinematográficas, em lucros e público, da história do cinema, finalmente está disponível toda a saga Harry Potter no streaming brasileiro. A HBOGO passou a Netflix pra trás e conseguiu o tão sonhado feito para os fãs. Os oito filmes, com nada menos do que duas horas cada, estão lá pra maratonar, matar a saudade, se emocionar, descobrir (quem sabe?) e se encantar com essa história cheia de magia mas também muito humana. Sempre revia pedaços de algum dos filmes porque passam incansavelmente na TV fechada, mas nunca parei pra rever direito, filme por filme, inteiro, com o olhar de agora, mas tinha muita vontade de fazer isso. Com #HarryPotterNaHBO a hora chegou.

Prepara a cadeira, os olhos, pode ler em partes se quiser, porque esse que vos fala se empolgou um pouco e não saiu apenas um textão. Saiu um  mega textão!

Aqui me apego aos filmes e deixo um pouquinho de lado os livros, até porque não lembro de muitos detalhes, e lógico, os livros são muito mais cheios de detalhes do que os filmes. Prefiro ignorar também as últimas declarações frustrantes, desnecessárias e preconceituosas da autora J.K. Rowling. E se você, se é que é possível, ainda não viu aos filmes, spoilers estão liberados à partir de agora. 
Harry Potter trata basicamente de algo comum a todos nós: laços humanos. Mas vou falando disso aos poucos, já trouxe a informação porque é onde tudo começa. Com isso em mãos, a autora conseguiu criar um universo mágico, cheio de simbolismos e paralelos com o mundo "real" e com uma incrível riqueza de informações e detalhes. Só por isso já é incrível. Transportado para as telas, esse universo ganhou uma embalagem muito cuidadosa, rica e com um brilho todo especial. Os dois primeiros filmes, os mais "infantis" da saga, foram dirigidos por Chris Columbus, e vou citar os diretores para entender um pouco como a marca de cada um deles foi impressa no mundo criado pela J.K. Rowling. Columbus dirigiu filmes como "Esqueceram de mim" e "Uma babá quase perfeita". Daí tiramos todo aquele ar infantil, perfeito e encantado dos dois primeiros filmes, principalmente do primeiro. Revendo agora, aliás, percebi que até as partes mais sombrias, como o troll no banheiro, eram puxadas pro lado mais "fofo" da coisa. 

Os efeitos me lembraram video games, exemplo: na cena onde Neville perde o controle da vassoura durante a aula de vôo. Também vemos pouco ou quase nada de sangue, afinal, é um mundo mágico. A textura do filme lembra muito a dos filmes dos anos 90 e creio que tanto a luz (sempre com um brilho), a arte (com dourados, vermelhos e cores mais solares) e o filtro usados, foram com essa intenção. "Harry Potter e a Pedra Filosofal" foi lançado no Brasil em novembro de 2001. A quebra maior nesse brilho e fantasia toda ocorre apenas quando vemos o que sobrou de Voldemort tomando o sangue de um unicórnio, que é representado de uma forma mais "realista". Um detalhe bobo: que chroma tosco é aquele que rola quando Harry, Hermione e Rony saem do castelo e vão falar com Hagrid e ele acaba falando sobre Fluffly? Não cola com todo o cuidado que o resto do filme teve para criar esse ar mágico e infantil.

Nesse filme já sentimos como a ligação de Harry (órfão de pai e mãe), principalmente com a mãe, é bem forte. O fato do garoto encontrar pessoas com que se identificasse, e que no mundo real, assim como ele, eram "aberrações", fez com que ele criasse laços fortes de amizade e se encontrasse, desabrochasse. Daniel Radcliffe, ainda tão jovem, consegue cumprir essa tarefa muito bem e percebemos claramente um Harry no início e um Harry no final do filme. Sua última fala, aliás, entrando no trem, indo embora mas olhando pra trás, para Hogwarts, é: "Eu não estou realmente voltando pra casa".
"Harry Potter e a Câmera Secreta" chegou no Brasil em novembro de 2002 e Columbus trouxe muito desse tom "lúdico" do primeiro para o segundo filme, porém, aqui, a história já começava a ficar um pouco mais pesada. Steven Kloves foi o responsável pelo roteiro de sete dos oito filmes (apenas "A Ordem da Fênix" tem a assinatura de Michael Goldenberg) e ele fez um trabalho muito respeitável. O primeiro foi uma ótima apresentação do mundo mágico para os espectadores e Columbus se esbaldou na linguagem que gosta. Da metade para o fim do segundo filme não teria como tirar ou "maquiar" muito a parte "sombria" e Kloves fez uma transição sutil mas muito eficaz. Nessa parte, Columbus também conseguiu se desapegar um pouco, mas sem se arriscar muito, da sua marca "filme família / infanto juvenil / juvenil" ou como queiram chamar. 

Em "A Câmara Secreta" é visível a melhora nas performances da Emma Watson (Hermione) e do Rupert Grint (Rony) que começaram praticamente do zero no primeiro filme, ao contrário de Radcliffe, que já tinha feito participações pequenas. Esse, aliás, nos presenteou com um momento fofo na cena do Dobby no quarto do Harry. Vemos sua não habilidade em atuar com pessoas vestidas de verde, Harry fala com Dobby mas fica claro que Radcliffe não estava "sentindo" a presença do mesmo, estava preocupado em acertar tecnicamente. Com o passar dos anos e dos filmes, a tarefa virou bobeira pra ele e pros seus companheiros de elenco. Aliás, ao longo de toda a saga é muito legal de ver a evolução e o aprimoramento do talento dos três, Grint com um desenvolvimento um pouco mais lento (sou obrigado a dizer), mas o que importa é que hoje em dia os três se aventuram em produtos bem interessantes e estão com a conta bancária muito bem, obrigado. 

Ainda sobre elenco e ainda sobre o segundo filme, Bonnie Wright (Gina) tem um desempenho constrangedor mas consegue melhorar um pouco (sejamos sinceros) durante os anos e conforme Gina vai ganhando mais importância na história. Os atores mais experientes trouxeram densidade e credibilidade para esses dois primeiros filmes. Cenas como o monólogo da Profª. Minerva (Maggie Smith) em "A Câmera Secreta", onde entendemos um pouco melhor da história de Hogwarts, serve de base e estrutura para o que vai ser apresentado depois. Richard Harris foi a escolha perfeita para Dumbledore e esteve ótimo, infelizmente, faleceu em 2002. Nos filmes seguintes foi substituído a altura por Michael Gambon. 

Pra finalizar sobre "A Câmera Secreta", é notável a evolução na qualidade dos efeitos especiais e isso fica claro na cena do carro voador (com Harry e Rony dentro) que acaba sendo atacado pelo Salgueiro Lutador. Juro que tentei encontrar quanto tempo durou para realizarem aquela cena mas não consegui. Uma coisa é certa: foi bastante tempo entre filmagens e finalização.
Se no texto a autora fala sobre diversidade com a questão dos sangues puros, bruxos serem "aberrações" para os trouxas, como todos os ditos "perdedores" podem ter um lado heróico e etc. Para a saga, o terceiro filme, "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban" traz essa diversidade visualmente. Aqui houve uma quebra total no que foi apresentado até então. Lançado em junho de 2004 no Brasil e dirigido por Alfonso Cuarón, que já tinha dirigido "A Princesinha" (clássico da sessão da tarde) e que estava colhendo os louros do cult "E sua mãe também", ele trouxe para a saga realismo e melancolia. Só a nível de curiosidade, posteriormente, Cuarón dirigiu filmes como "Filhos da Esperança", "Gravidade" e o mais recente "Roma". 

Em "O Prisioneiro de Azkaban" vemos os personagens com mais roupas sociais e uniformes nem sempre perfeitos, ou seja, deixou de ser uma publicidade e o mundo dos bruxos ficou mais realista. Já na segunda cena do filme a câmera é na mão (meio trêmula), mostrando o caos que é a casa dos Dursleys. Ainda há um plano sequência muito interessante quando o Sr. Weasley (Mark Williams) chama Harry pra conversar sobre Sirius Black (Gary Oldman). Bem realizado, ensaiado, enquadrado e com uma considerável quantidade de elenco e figurantes se movimentando em cena. Cinema puro. Na fotografia saem os filtros com glow, a luz chapada e os brilhos e entram sombras e constrastes. Em conjunto com a fotografia, a arte opta por tons mais azulados, frios e saem os tons muito vermelhos e dourados e entram cores sóbrias e "sujas". 

Além da trilha clássica, novas faixas belíssimas foram criadas, como a que toca durante a cena em que Harry pergunta a Lupin (David Thewlis) o porque dele ter interrompido o mesmo de enfrentar o bicho papão durante a aula. Aliás, essa cena nos leva a outra mudança considerável em relação aos outros filmes da saga: Hogwarts ganha novos cenários, como a bela ponte/corredor onde essa cena acontece e uma mudança "geográfica": a cabana de Hagrid, que antes era em uma área plana, logo em frente ao castelo e com a Floresta Proibida logo atrás, mudou-se magicamente para a base de um pequeno morro nesse filme. A falta de explicação da origem do Mapa do Maroto, e aqui serei o mais chatos dos chatos dos Potterheads é inaceitável! Porra, Steven Kloves! Porra, Alfonso Cuarón!. Mas Harry convocando o expecto patronum virou um clássico da saga.

Escolher um diretor com uma identidade tão marcante e pessoal pode até ter sido uma escolha arriscada dos produtores. Ou uma tentativa de elevar a saga a um outro nível, de ser levada mais "a sério" e não apenas como "mais um filme infantil", o que quer que tenha sido, pessoalmente, acho que Cuarón e toda a equipe fizeram um belo trabalho e querendo ou não, marcaram um pouco o que seria a estética da saga pros filmes seguintes. É um dos meus preferidos.
Em novembro de 2005 saiu "Harry Potter e o Cálice de Fogo" que na minha opinião é o mais complicado de todos os filmes da saga. Dirigido por Mike Newell, conhecido por "Quatro Casamentos e um Funeral", "Donnie Brasco" e "O Sorriso de Mona Lisa", seu filme anterior e também bem mediano, o filme demora a decolar, tem uma trama de paixões adolescentes que é dada muita importância, lembra "Malhação" (não no seus momentos bons) e nos entendia. 

Toda a estética "limpa" e publicitária dos dois primeiros filmes é trazida de volta mas sem a parte lúdica, até porque aqui, os hormónios dos já adolescentes estão em ebulição. Vemos a famosa "trajetória do personagem", ou personagens, no caso. No segundo e no terceiro filme algumas dicas de interesses amorosos são dadas, mas aqui a coisa é desenvolvida e mesmo sendo chato de acompanhar, entendemos algumas coisas que acontecem nos filmes seguintes por causa desses acontecimentos, ou seja, os personagens precisavam passar por isso. 

O início do filme empolga com a Copa Mundial de Quadribol e seus efeitos especiais ótimos, mas acaba praticamente num piscar de olhos. Somos apresentados ao Torneio Tribuxo sem maiores explicações: se era uma coisa que acontecia todo ano, de década em década, caraca Steven Kloves! Que porra era aquela acontecendo? E aquelas entradas triunfais cafonérrimas de cada escola concorrente, precisava realmente daquilo Mike Newell?

Depois que o Torneio começa, já lá pela metade do filme, a coisa começa a empolgar e aos poucos vai nos levando a um desfecho triste e pesado, o que é ótimo para os filmes seguintes, que seguem essa linha. Não dá pra deixar de falar da quase estréia de Robert Pattinson (que tinha feito apenas coisas pequenas antes), bem "verde", conseguiu segurar a responsabilidade que seu personagem tinha para a história. É realmente impressionante ver sua evolução desde "O Cálice de Fogo" até filmes como "Bom Comportamento" e "O Farol". 

Ainda nesse filme aparece pela primeira vez a "penseira". Objeto mágico que Dumbledore, após retirar suas memórias da cabeça com sua varinha, as guarda e pode revivê-las quando for necessário. Do mundo Harry Potter é a coisa que mais desejo que poderia existir na vida real. Acho o conceito maravilhoso. Também pela primeira vez vemos Voldemort agora mais forte e com corpo, o corpo do Ralph Fiennes. E mesmo com uma caracterização fortíssima ele conseguiu encarnar o temidíssimo vilão perfeitamente. Voldemort é realmente assustador. Creio que se Newell soubesse dosar um pouco melhor a parte "adolescente" da história principal, teríamos um filme mais interessante e mais coeso. Pra mim, com certeza, o pior da saga.
Como já havia dito, Steven Kloves dá uma pausa na escrita do roteiro e Michael Goldenberg assina "Harry Potter e a Ordem da Fênix". Ele trouxe cenas muito bem construídas e diálogos que ainda não tínhamos visto durante a saga. O grande exemplo disso são as cenas entre Harry e Sirius. Numa das cenas, Sirius solta: "O mundo não é dividido entre pessoas boas e comensais da morte. Todos temos luz e trevas dentro de nós. O que importa é qual parte escolhemos usar" e isso tem ligação direta como as bem definidas, até aqui, personalidades de Dumbledore e Snape são colocadas em dúvida. Em uma de suas aulas para ajudar Harry a aprender a não invadirem a sua mente, Harry joga o feitiço nele e vemos um flashback que mostra que o pai do Harry estava bem longe de ser um santo, pelo contrário, era um pentelho de primeira e fazia bastante bullying com o Snape, o que já dá um sinal do porque do professor implica tanto com "o escolhido".

Alan Rickman (falecido em 2016), aliás, só vai ganhando mais espaço a partir desse filme e mostrando o grande ator que foi. Em todas as cenas que eram lhe dadas, ele brilha. Dumbledore, por outro lado, o mentor, sempre presente, defende Harry no início mas o evita durante todos os problemas que acontecem durante a trama, fica claro que mesmo gostando de Harry, Dumbledore tem suas questões e seus segredos. Michael Gambon também teve oportunidade de mostrar um outro lado com esse lado dúbio de Dumbledore e mandou muito bem. 

Ainda sobre o roteiro, gostaria de destacar algumas outras cenas. O discurso de Harry quando ele, Hermione e Rony convocam os colegas para a formação da Armada de Dumbledore, onde ele diz que tudo que ele fez teve muito de sorte e que na verdade quando você está numa situação extrema não dá pra "estudar" ou prever como irá reagir. Sem querer e sem perceber ele acaba descrevendo justamente um dos motivos por ser "o escolhido". Outra cena interessante é quando Harry, após dar seu primeiro beijo, conta pros amigos como foi um pouco estranho. Hermione, então, começa um monólogo que explica todas as angústias de um adolescente que vale por toda a tentativa de abordar o assunto em "O Cálice de Fogo". 

Outro assunto interessante que é abordado a partir desse filme é a política, na figura do Ministro da Magia, Cornélio Fudge (Robert Hardy) e especialmente na figura da Dolores Umbridge (Imelda Staunton), uma clássica cidadã de bem por fora mas que é capaz de fazer coisas terríveis com justificativas grotescas. Na cola de Dolores, a Profª. Minerva ganha um pouco mais de destaque, assim como a Profª. Sibila Trelawney (Emma Thompson) que teve uma participação especial em "O Prisioneiro de Azkaban" e aqui volta numa cena importante. Aliás, a volta dos adultos todos é bem empolgante: Lupin, Olho-Tonto, etc. Uma daquelas implicanciazinhas: porque e como Harry, Hermione, Rony, Gina, Luna e Neville voaram para Londres nos animais que apenas Harry e Luna viam e não em vassouras? Fica aqui o questionamento. 

"A Ordem da Fênix" foi lançado em Julho de 2007 e marcou a estréia do David Yates na direção da saga. Ele dirigiu esse, os filmes seguintes e derradeiros da série e posteriormente também os do spin-off "Animais Fantásticos". Yates não era muito conhecido no mundo do cinema mas era diretor premiado de TV. Graças a Dumbledore o preconceito com TV acabou e Yates entrou nesse barco porque, pra mim, foi o diretor que melhor soube equilibrar o mundo mágico e o mundo real. Fazer um produto mas não necessariamente querer fazer uma OBRA. E isso é um elogio! Ele sabe contar história, sabe aonde investir, sabe aonde experimentar e sabe as coisas que não renderiam ou que não valeriam a pena. 

Uma cena simples, mas que demonstra seu talento, é a cena da pequena discursão entre as professoras Dolores e Minerva. Ele faz uma marcação das atrizes que nos conta perfeitamente o que está vindo a seguir. Já numa cena mais complicada, como o confronto entre Dumbledore e Voldemort ele também é competente e escolhe enquadramentos certeiros, como o que Harry (possuído pelo Voldemort) vê Hermione e Rony e percebe que tem motivos para continuar seguindo. É o tal do "laços humanos" que citei um pouco mais acima. Filmão.
Conforme vamos chegando a conclusão da saga, mais respostas vão nos sendo dadas e a descoberta das Horcruxes do Voldemort em "Harry Potter e o Enigma do Príncipe" é o ponto de partida para o ato final da série. Com Steven Kloves de volta ao roteiro, senti um pequeno passo para trás. Mesmo mais sutil na abordagem dos romances, a forma açucarada e caricata que representa os adolescentes (e principalmente as meninas) me incomoda um pouco. Sim, o problema tem origem no texto original da J.K. Rowling, mas ainda acredito que ele poderia ter dado uma melhorada na questão. Esquecemos também as cenas mais compridas e os diálogos mais elaborados do filme anterior, o "papum" voltou. 

Ponto positivo para a forma como abordaram a relação do trio protagonista e como é deixado claro que o amor entre os três existe mas de formas diferentes. Rony se interessa amorosamente por Hermione que tem sentimentos recíprocos e ama Harry de um outro modo, mais como um irmão. Isso, claro, ainda rende, principalmente na primeira parte de "Relíquias da Morte" quando Rony, antes de destruir a terceira Horcrux, vê seus piores pesadelos acontecerem. Falando um pouco sobre adaptação livro/filme, muito fã se irritou com o fato de Bellatrix e o outro comensal da morte colocarem fogo na casa dos Weasleys, particularmente acho que, dramaticamente e visualmente é bem válido. Aqui tem uma lista engraçada dos fãs mais apegados aos livros e coisas que os irritaram bastante nos filmes

A direção objetiva de Yates combina com o estilo do roteiro do Kloves. Nas mãos de outro diretor, talvez essas cenas de romance fossem mais "bobinhas" do que já são e Yates, como já disse antes, sabe balancear os tons e navega muito bem pelos estilos narrativos. Achei as cenas iniciais com Dumbledore abraçando Harry (já mostrando ali que estaria do lado dele até o fim), o clima de terror sendo instaurado e sendo percebido e sentido até pelos trouxas e o ataque ao beco diagonal com o sequestro do Sr. Olivaras (John Hurt, sempre excelente em suas participações e falecido em 2017) uma excelente abertura. 

Mais uma vez, Alan Rickman deu um banho de interpretação e roubou a cena, a construção do seu Snape é simplesmente uma OBRA DE ARTE. Quem teve oportunidade (finalmente!) de mostrar seu talento foi Tom Felton (Draco) e não decepcionou. Cumpriu seu papel muito bem. Helena Bohan Carter também mostrou a que veio (não que precisasse) e Rupert Grint se mostrou mais maduro tanto quando enfeitiçado pela porção do amor direcionada, na verdade, para Harry, como também nas cenas do Quadribol. Sim! O Quadribol vive e trouxeram ele de volta! 

"O Enigma do Príncipe" foi marcado pela morte de Dumbledore numa cena muito bem dirigida e emocionante na medida certa, como um personagem da importância dele, dentro da série, merecia. Um fato que acho interessante e bem legal desse filme é que, mais uma vez, mas talvez de uma forma mais clara, a posição de "herói" de Harry é colocada em cheque. Ele "trapaceou" boa parte do filme ao usar as anotações do príncipe mestiço e quando teve uma oportunidade usou um feitiço poderoso em Draco mas, aparentemente, se arrependeu logo. Sacrificar um inimigo para um bem maior seria algo tão grave? Ou Harry seria realmente apenas um garoto comum, o "just Harry" (da "Pedra Filosofal"), que por acaso se viu no meio de uma grande história e que teve muita sorte (como ele mesmo disse em "A Ordem da Fênix)? Todos podemos ser heróis em algum momento mesmo sendo pessoas comuns? Essa é a grande provocação da autora e está bem forte nesse filme.
Particularmente acredito que alguns motivos levaram os produtores a dividirem "Relíquias da Morte" em duas partes. Prologando a saga, ganhariam mais dinheiro. Dividindo o filme, teriam um pouco mais de tempo pra finalizar a segunda parte, já que é abarrotada de efeitos visuais. O que de fato aconteceu só os poderosos da Warner para responder. Como fã e espectador,  gostei da divisão, mesmo achando que a primeira parte tenha ficado um pouco arrastada e bem melancólica, mas tudo bem, estávamos vendo o mundo Harry Potter!

"Harry Potter e as Relíquias da Morte, Parte 1" estreou no nosso Brasilzão em novembro de 2010 e esse, pra mim, é o filme sobre a relação dos três protagonistas e principalmente da Hermione. Ah! O que seria do Harry Potter sem o Rony e a Hermione? Mas PRINCIPALMENTE: o que seria do Harry sem a Hermione? O filme já começa num tom assustador com o ministro da magia dizendo que mesmo tudo estando um desastre, eles tentarão manter a ordem. Como na vida real, deu ruim, os vilões chegaram no poder e agora todo mundo vive ou fugindo ou se bandeou pro lado do bruxo das trevas. 

A cena da Hermione apagando ela mesma da memória dos pais e das fotos de família já começa partindo nosso coração. Para Harry se esconder, vários aliados tomam a poção polissuco e se transformam em Harrys. Daniel Radcliffe se esbalda e brinca em cena fazendo cada personagem no corpo do Harry e se sai muito bem, além, claro, do excelente trabalho da equipe de efeitos visuais. 

A partir daí o filme entra num ritmo frenético com perseguição de "carros", comensais da morte, membros da "Ordem da Fênix" e um mini combate entre Harry e Voldemort. O vilão acaba perdendo a batalha porque estava usando a varinha do Lucius Malfoy que simplesmente não aguentou a pressão (essa frase não foi uma piada). Nessa brincadeira temos duas baixas: Edwiges e Olho-Tonto, e aqui vai uma dica de revisão das legendas para a dona HBOGO, em alguns momentos está Olho-Tonto e em outros Mad-Eye e isso acontece com alguns personagens, o nome foi deixado na versão original. 

Seguindo o ritmo frenético, no meio do casamento da Fleur Delacour (Onde outras figuras de "O Cálice de Fogo" aparecem) e do Gui Weasley (Sim! Finalmente ele aparece mas creio que essa surpresa só funciona pra quem leu os livros) todos são atacados por comensais da morte e Harry, Hermione e Rony conseguem fugir juntos, mas pra quem ficou pra trás é salve-se quem puder. Hermione, sempre preparada, tem uma bolsa mágica com fundo falso e logo eles estão como "pessoas normais" mas também logo são atacados por dois comensais da morte e após os dominarem, um momento muito significante: a gente vê nos olhos da Hermione que a vontade dela era destruir os dois mas, como é uma bruxa de mente evoluída, apenas apaga a memória dos vilões. É ou não é uma heroína? Sem esquecer que foi ela que ficou do lado do Harry o tempo inteiro.

Dobby também volta e tem um papel importantíssimo na história, seu triste final é de cortar o coração e nunca imaginei que me emocionaria com a morte de um ser criado digitalmente. E isso aconteceu todas as vezes que vi esse filme. As sequências de Harry, Hermione e Rony, em outros corpos, no ministério da magia é mais um atestado do bom casamento entre Kloves (roteirista) e Yates (diretor). Diálogos rápidos e nas imagens, muita ação. 

Logo depois, lá pelo meio do filme, entramos em um terreno perigoso mas muito interessante. Apenas os três convivendo e tendo que "compartilhar a guarda" da Horcrux que tem um efeito negativo na pessoa que a está usando, o relacionamento dos protagonistas é posto em prova e tanto na briga que faz Rony ir embora como na discussão com a sua volta (e sua história fofíssima), vemos um grande amadurecimento artístico dos atores. É bem legal de ver. 

Enquanto Rony está de birra sabe-se lá por onde, o clima fica pesadíssimo entre os brothers e o filme entra numa vibe bem melancólica. Porém, nem tudo está perdido. Em uma cena linda, Harry vê a amiga ouvindo uma música no rádio e a pega pra dançar. A química entre Radcliffe e Watson deve ter traumatizado a atriz que fez a Gina pro resto da vida. Hermione e Harry ainda visitam a cidade natal de Harry e só pra acabar um pouquinho mais com nosso coração, Harry encontra o túmulo dos pais. 

Uma parte legal do filme que também vou deixar registrado aqui é a animação que rola enquanto a Hermione lê "O Conto dos Três Irmãos". Bem realizada, tira um pouco o espectador daquele mundo completamente melancólico e gera um alívio. Mesmo a história também não sendo leve e tratar de morte. Quando Harry, Hermione e Rony são capturados na reta final do filme, novamente Yates se esbalda e coloca ação atrás de ação que quase nos faz esquecer a pequena barriguinha do meio do filme e, é claro, com a cena final, queremos o que? O desfecho!
Se na primeira parte tivemos momentos de melancolia e quietude, na segunda parte a gente mal consegue respirar. Um pouco mais de sete meses depois da estreia da primeira parte, "Harry Potter e as Relíquias da Morte, Parte 2" foi lançado no Brasil, mais exatamente em Julho de 2011. Aqui, David Yates faz o que parece gostar mais: ação, agilidade. O ritmo é frenético, um filme evento. Revendo, em determinado momento me veio na cabeça: "Caraca, parece o Titanic afundando!" e me deu muita, mas muita vontade de ver um resumo dos acontecimentos desse último filme feito pelo Carlinhos Avelar (personagem do Rafael Infante no Porta dos Fundos)! Ia ser genial. 

Nessa correria toda claro que algumas coisas iam ficar sem uma explicação descente, acho super ok, mas é bom pontuar. Achei que a história do pedaço do espelho do Sirius, que ficou com o Harry, bem mal contada, assim como a Luna, que estava na nova base do que sobrou da Ordem da Fênix e, do nada, aparece em Hogwarts. E o que falar da Pedra da Ressurreição? Outra coisa bizarra e que todo fã (ou qualquer pessoa mais atenta) sempre fala é sobre a famosa frase "Você tem os olhos da sua mãe". Isso é dito pra Harry várias vezes durante a saga e só nesse filme contei em dois momentos bem importantes. Quando chegamos no flashback do Snape com a mãe do Harry criança, cadê os olhos do Harry? Não é uma coisa que chega a ser parecida nem nada, NÃO TEM NADA A VER. Achei engraçado e fiquei me perguntando como, num filme desse porte, escorregaram numa coisa tão boba. Pulemos. 

A cena da Hermione, no corpo da Bellatrix Lestrange em Gringotes é o ponto alto da participação da Helena Bohan Carter na saga. Outra coisa que me chamou atenção foi o excesso de sombra preta nos olhos do Alan Rickman quando ele reúne todos os alunos de Hogwarts para dizer que Harry foi visto na área. Achei bem gótico mas estava completamente fora de continuidade. rs. Dois momentos "ESSE MOMENTO É NOSSO" precisam ser citados: Profª. Minerva em ação e a Sra. Weasley não só dando um chega pra lá na maluca/perigosíssima da Bellatrix como dando a ela o destino que ela merecia. Fãs mais assíduos de Harry Potter devem lembrar de muitas coisas que estavam nos livros e não foram pros filmes ou não foram feitas exatamente iguais, já coloquei uma lista lá em cima mas aqui segue mais duas que achei bem interessantes: Uma é do site Legião de Heróis e a outra é do site da revista Superinteressante. No caso de Harry Potter, particularmente, apenas uma coisa me incomodou bastante: a morte do Voldemort. Eu realmente queria ver seu corpo morto estendido e mais testemunhas por ali. 

Se por um lado o filme é repleto de ação do início ao fim, meio difícil não se emocionar com algumas partes do capítulo final. Ver Fred, Lupin e Tonks (mesmo tendo sua história praticamente reduzida a zero nos filmes) mortos, foi puxado. Assim como foi puxado quando Harry vai para a Floresta Proibida para morrer e encontra Hermione e Rony. E já que estou falando de coisas tristes, chegou o momento de falar de um dos pontos altos do filme: o flashback do Snape. Tudo começa com sua morte bem bizarra quando ele é atacado pelo Voldemort e depois pela Nagini. Harry, que pegou uma lágrima de Snape a seu pedido, vai até a penseira na sala do Dumbledore. A partir daqui temos grandes revelações e um belo trabalho de direção (tirando a escolha da atriz pra fazer a mãe do Harry, claro), edição, efeitos, música e, claro, Alan Rickman maravilhoso. O "encontro" do Harry com o Dumbledore  foi bem bonito e é nele onde está minha fala preferida de toda a saga: "Palavras são, na minha não tão humilde opinião, nossa maior e inesgotável fonte de magia. Elas são capazes tanto de ferir como de curar." Cai a cortina. Achei um artigo bem legal (em Inglês) sobre os bastidores da realização dos dois últimos filmes pra quem quiser dar uma olhada. Abaixo um pequeno video de despedida do elenco:
Harry Potter é, sem dúvida, um marco do cinema, da cultura pop, da literatura, marcou gerações e será sempre lembrado e revisto. Foi e sempre será uma linda jornada. E você? Se arriscaria a fazer um ranking do melhor ao pior filme? Eu tenho o meu!