Sem maquiagem: o incrível primeiro episódio especial de #Euphoria.

Na primeira temporada #Euphoria empolgou pelo texto mais "realista" sobre a adolescência mas, e  principalmente, encheu os olhos com a fotografia, edição rápida e os figurinos e maquiagens empolgantes. Foi muito burburinho e todo mundo ficou ansioso aguardando a segunda temporada. O covid explodiu, as filmagens foram suspensas e a temporada nova adiada. Daí o criador Sam Levinson e a HBO decidiram fazer dois episódios especiais, filmados com os protocolos de saúde, e no primeiro episódio reencontramos a personagem principal e um coadjuvante em um contexto quase que completamente novo, sem muitas alegorias, visualmente "simples" mas extremamente bem escrito e com diálogos excelentes. A surpresa é mais que boa, é ótima! A forma como o roteiro é construído, seus diálogos consistentes, importantes, com temas atemporais e sua fluidez são admiráveis, além de avançar no psiquê das personagens ficamos muito curiosos com o que pode vir a seguir, tanto no segundo episódio especial (sem data de lançamento ainda) quanto na futura segunda temporada.

SPOILERS A SEGUIR

Rue indo mais e mais fundo
Durante o episódio de quase uma hora Rue vai se "desmontando". Como numa sessão de terapia, Ali, conhecido de vista até então, consegue ir tirando da jovem mulher de 17 anos sentimentos que parecem estar grudados em sua alma implorando pra serem colocados pra fora. O grande trunfo do episódio, acredito, é que mesmo com esse tempo de menos de uma hora, aborda assuntos EXTREMAMENTE interessantes sem tratá-los de forma superficial, abre diálogos e mesmo com as limitações impostas pelo covid é extremamente bonito. Queria saber, inclusive, se aquele plano único, isolado, do Ali tocando a mão da Rue foi feito com dublês. Se alguém encontrar essa resposta por aí, me fala. É um "especial de natal" digno de 2020, melancólico e reflexivo, um tapa mas um carinho. 

Zendaya, Domingo e Marsha
Com um roteiro estruturado basicamente por diálogos, automaticamente, grande parcela do resultado final é dado nas mãos das perfomances do atores, e aqui eles estão totalmente entregues e muito bem amparados. Zendaya, que recentemente recebeu o Emmy de melhor atriz por conta da primeira temporada, domina o papel. Ela reconhece e explora as nuances do texto, vai de chapada falando merda, até, vagarosamente, em total consciência de seus problemas de uma forma linda. As respirações e o choro necessário em apenas um momento são ótimos exemplos tanto da competente direção (também de Levinson)  quanto da extrema sensibilidade da atriz. Um primor. "Duelando" com Zendaya está Colman Domingo que tem o papel extremamente importante de conduzir Rue pelos labirintos da sua mente e ainda mostrar um pouco mais de Ali. Ele simplesmente arrasa. Não conheço sua história pessoal mas diria com 100% de certeza que o que ele estava falando era completamente verdadeiro, ou seja, ele mergulhou de cabeça naquele texto e naquele personagem. Primor, primor! A cereja do bolo fica por conta de Marsha Gambles, uma não atriz que traz um lindo, sincero e poderoso depoimento real pra dar ainda mais "alma" para esse episódio. Nessa entrevista da Zendaya para o Jimmy Kimmel, ela fala mais sobre a Marsha e várias outras coisas legais (em inglês).

A poesia da imagem e do som
Em algum ponto do episódio Ali diz: "você precisa acreditar na poesia". Esse episódio em si, é uma bela poesia. Levison escreveu o roteiro e provavelmente já tinha na sua cabeça como contar aquela história mas, mesmo assim, estudou muito como fazê-lo. Cada parada, os planos abertos, os fechados, os travellings e o lindo plano final parecem ter sido muito bem planejados e/ou sentidos. O exemplo claro disso é o momento em que Ali sai pra fumar cigarro e ligar pra suas filhas e a ótima "Me in 20 years" do Moses Sumney toca, o timing perfeito pra encaixar uma música em um momento de reflexão de uma personagem e reconexão de outra. Labrinth está de volta e em uma episódio que fala, dentre outras coisas, sobre fé, canta uma versão de "Ave Maria" para finalizar o episódio. Acompanhada de um plano aberto da Rue que vai sendo fechado em seus olhos, o episódio é fechado lindamente.

#Euphoria, primeira temporada e esse episódio especial estão disponível no HBO GO. 

Aqui um por trás das cenas (em inglês):