Sem rumo, #DrukMaisUmaRodada se torna perigoso mas tem super atuação do protagonista

Reunindo mais um vez o diretor Thomas Vinterberg e o ator Mads Mikkelsen, que fizeram em 2012 o excelente "A Caça", #DrukMaisUmaRodada tem uma premissa curiosa e diria quase idiota. Quatro professores do ensino médio, com crise de meia idade, destaque principalmente para o personagem de Mikkelsen resolvem por em prática uma "teoria" que diz que o ser humano nasce com uma falta de 0,5% de álcool no organismo, ou seja, teria que ficar repondo sempre ou simplesmente entornando o copo o dia todo mesmo. No filme essa idéia é tratada como teoria, porém, na realidade, é uma coisa que o Finn Skårderud falou e depois parece que até desmentiu, e numa pequena pesquisa descobri que de fato não existe uma teoria, um artigo científico, foi só uma coisa que ele soltou por aí e virou uma "coisa". O diretor fala um pouco dessa premissa nessa entrevista (em inglês) para o site do Globo de Ouro.

Fato é que ao toparem por em prática a tal teoria, na primeira metade do filme, #DrukMaisUmaRodada se torna uma celebração ao álcool, o que acho minimamente perigoso. A esposa de Martin (Mikkelsen) em um momento diz "Eu estou me lixando se você bebe com seus amigos. O país inteiro anda bebendo como doidos". Daí a questão, o mundo todo está bebendo muito e pouco se fala sobre isso, tratar de alcoolismo é um tema delicado e até identifico o interesse do diretor em tentar mostrar a gravidade da coisa, porém, a missão não é completamente atingida. Somente na terceira parte do filme, quando obviamente, as consequências das bebedeiras aparecem é que temos uma leve pincelada do tamanho do problema. Os vazios existenciais dos personagens, de novo, com destaque para Martin, são rasamente explorados e olha que são personagens simpáticos (os quatro) e ficamos interessando em entender toda aquela angústia interna. Mas isso não vem, é como todo uso de droga: euforia e depois depressão. Outro fato que me chamou atenção é que os 4 protagonistas, homens de meia idade, são quase crianças e as esposas que aparecem tem quase a função de mãe dos mesmos. 

E agora a surpresa: mesmo falando tudo isso não achei #DrukMaisUmaRodada um filme ruim. Tem todas essas questões, mas ao mesmo tempo tem um pouco de celebração da vida e da importância da amizade. De seguir mesmo depois de fazer merda. Mads Mikkelsen está estupendo no papel do professor deprimido que tem altos e baixos emocionais o tempo todo, com certeza, alguma premiação vai rolar. Seu outros companheiros de cena Thomas Bo Larsen (Tommy), Lars Ranthe (Peter) e Magnus Millang (Nikolaj) estão igualmente excelente e o quarteto junto funciona incrivelmente bem. Maria Bonnevie, a esposa de Martin, que saudade! Essa atriz fez um filme que marcou minha vida "Reconstrução de Um Amor", assistam! Mas voltando, Bonnevie e Mikkelsen juntos tem excelentes cenas no filme. Outro ponto alto do filme é o uso das músicas em momentos chaves acrescentando muito no que a cena quer dizer. Por fim, ainda destaco os ótimos diálogos, como quando o aluno fala sobre a análise da angústia do Kierkegaard: "É preciso aceitar a si mesmo como falho para poder amar aos outros e a vida". Deixo aqui também o poema que abre o filme: “O que é a juventude? Um sonho O que é o amor? O conteúdo de um sonho”

E você? Já viu #OutraRodada? Odiou? Amou? Ou ficou dividido como eu?